No quinto boletim da safra de grãos 2023/24, divulgado em fevereiro pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção brasileira foi estimada em 299,8 milhões de toneladas, com redução de 6,3% em relação à safra anterior, o que representa 13,5 milhões de toneladas a menos.
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Comparativamente à quarta estimativa, divulgada em janeiro, houve uma diminuição de 2,2%, o que corresponde a 6,6 milhões de toneladas, sendo as principais reduções observadas nas culturas de soja e milho.
A análise da Conab ressalta que as adversidades climáticas, responsáveis por incertezas e prejuízos à tomada de decisão dos produtores, tornaram a safra verão 2023/24 uma das mais desafiadoras em se tratando de estimativa de área, produtividade e produção.
Isso porque condições climáticas instáveis, com chuvas irregulares e altas temperaturas na região central, juntamente com precipitações abundantes no Sul, causaram e ainda têm causado atrasos no plantio, impactos no vigor das sementes, abortos florais, tombamento de plantas e baixo desenvolvimento das lavouras, além de antecipar ciclos fenológicos e ocasionar replantios.
Buscando levar informações de qualidade e baseadas em dados para os agricultores, reunimos neste artigo as últimas e mais relevantes atualizações sobre como estão as lavouras pelo Brasil. Confira!
Safra verão 2023/24: como o clima tem impactado as culturas por região?
Entre os dias 1 e 21 de janeiro, o monitoramento agrometeorológico da Conab registrou um padrão de chuvas generalizadas nas regiões agrícolas do país, promovendo a restauração e a manutenção dos níveis de umidade do solo.
Isso, por sua vez, proporcionou condições favoráveis para o plantio e o desenvolvimento das culturas de primeira safra. No entanto, a diminuição das chuvas e as temperaturas elevadas no Semiárido do Nordeste e em áreas de Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná podem ter limitado o desenvolvimento de algumas lavouras.
Soja
Mato Grosso: a colheita já começou, com mais de 10% da área total colhida até a data do levantamento [21 de janeiro]. As condições das lavouras variam conforme a região, refletindo as distintas características agronômicas e climáticas enfrentadas. Embora as chuvas recentes tenham aliviado a escassez de água, os impactos negativos das condições climáticas anteriores persistem, não sendo completamente revertidos.
Rio Grande do Sul: houve uma melhora nas condições climáticas, especialmente em termos de luminosidade. Apesar do desenvolvimento inicial mais lento, as plantas apresentam bom vigor e porte. A semeadura ainda não foi finalizada, mas já é possível observar lavouras em fase de enchimento de grãos.
Paraná: o clima tem favorecido as atividades de colheita, embora precipitações irregulares e altas temperaturas tenham prejudicado o desenvolvimento adequado de parte das lavouras, especialmente aquelas em fase reprodutiva.
Goiás: a colheita já teve início nas áreas de plantio mais precoce. As lavouras de ciclo médio e tardio estão se recuperando das chuvas recentes. No geral, apresentam um bom estado fitossanitário, mas ainda necessitam de chuvas suficientes para completar o enchimento dos grãos.
Mato Grosso do Sul: a colheita está em andamento, porém os primeiros talhões apresentam produtividades mais baixas devido à falta de água. Observa-se um encurtamento do ciclo, com as lavouras em fases reprodutivas.
Minas Gerais: as altas temperaturas e as chuvas mal distribuídas afetaram a cultura, principalmente na região Noroeste. As lavouras semeadas mais tardiamente estão em melhores condições do que as plantadas até meados de novembro.
Bahia: as chuvas regulares têm beneficiado as lavouras de soja, que apresentam um bom desenvolvimento geral. As áreas irrigadas já começaram a ser colhidas, enquanto as de sequeiro estão em fase vegetativa e de florescimento.
São Paulo: a colheita teve início e as plantações estão em diferentes estádios de desenvolvimento fenológico, incluindo o desenvolvimento vegetativo. No entanto, a irregularidade das chuvas e as altas temperaturas prejudicaram o potencial produtivo das lavouras de maneira geral.
Tocantins: as lavouras estão em diversos estádios fenológicos, desde o desenvolvimento vegetativo até a maturação. O retorno das chuvas tem beneficiado as áreas em fase vegetativa e de enchimento de grãos.
Maranhão: a colheita começou no Sul, nas áreas que foram afetadas pela estiagem no final de 2023. A semeadura ainda está em andamento nas regiões central, leste e leste maranhense, sendo limitada pela falta de chuvas.
Piauí: a semeadura está quase concluída na região sudoeste do Piauí, enquanto a região norte ainda não iniciou o plantio.
Santa Catarina: a semeadura da primeira safra foi concluída, e a qualidade das plantações varia de boa a regular devido ao excesso de chuvas no início do plantio, resultando em algumas falhas de germinação e replantios pontuais. O calor excessivo e a redução das chuvas estão prejudicando algumas áreas, especialmente aquelas em fase de floração e enchimento de grãos.
Pará: as fases fenológicas variam entre as regiões do Estado. A semeadura ainda não foi concluída, enquanto algumas lavouras já estão em estádio de maturação. As chuvas beneficiaram o sudeste, possibilitando o avanço do plantio, enquanto no oeste, no polo de Santarém, a escassez de água prejudica as plantações e interrompe as operações de plantio.
Estimativa da safra de soja 2023/24 em janeiro
No último levantamento da Conab, a estimativa para a produção de soja fechou em 155,3 milhões de toneladas, com uma redução de 4,2% em relação à previsão inicial, que era de 162 milhões de toneladas. Os principais fatores que contribuíram para essa revisão negativa, foram:
- atraso na semeadura;
- falhas na germinação;
- problemas no desenvolvimento das plantas;
- espaçamento irregular;
- estandes reduzidos;
- tombamento das plantas;
- antecipação da fase reprodutiva;
- abortamento de flores;
- chuvas mal distribuídas;
- altas temperaturas;
- migração de área para outras culturas.
Milho
Mato Grosso: o plantio de milho safrinha segue em andamento à medida que avança a colheita da soja. As condições climáticas favoráveis têm promovido um bom desenvolvimento vegetativo.
Rio Grande do Sul: a colheita do milho verão teve início e está progredindo conforme o planejado, apesar do volume elevado de chuvas recentes. As áreas em enchimento de grãos e maturação estão em boas condições, embora temporais tenham causado o acamamento de plantas em algumas lavouras. A semeadura das áreas tardias continua e, apesar da pressão de cigarrinhas, as condições das lavouras são satisfatórias.
Paraná: o baixo volume de chuvas e as altas temperaturas prejudicaram o desenvolvimento das lavouras de verão. A colheita teve início e as condições climáticas favoráveis permitiram que ela avançasse, beneficiando o enchimento de grãos nas lavouras mais tardias. Para o milho safrinha, as chuvas recentes foram benéficas para o progresso da semeadura.
Goiás: as chuvas beneficiaram as lavouras de verão, contribuindo para o enchimento de grãos. No geral, apresentam um bom aspecto fitossanitário, apesar de algumas terem sofrido estresse hídrico, comprometendo a polinização e, consequentemente, a formação dos grãos. No milho safrinha, as primeiras áreas foram semeadas na região sul do Estado.
Minas Gerais: a maioria das lavouras de milho verão está nas fases de floração e enchimento de grãos, com algumas áreas apresentando plantas de baixo porte e espigas de tamanho reduzido.
Bahia: nas regiões oeste e centro-norte, as lavouras de verão estão se desenvolvendo bem. No centro-sul, o plantio está mais lento devido à irregularidade das chuvas.
São Paulo: observaram-se altas temperaturas e o início da colheita da safra verão, com predominância de lavouras em estágios reprodutivos.
Maranhão: a semeadura do milho verão continua em andamento, mas está atrasada devido à falta de chuvas regulares e em bons volumes.
Santa Catarina: a colheita do milho verão avançou na região oeste, onde o plantio ocorreu mais cedo. As altas temperaturas e a falta de chuvas aceleraram o ciclo da cultura. Nas lavouras mais tardias, a qualidade é considerada superior devido às condições climáticas mais amenas. A maioria das lavouras está nas fases finais dos estágios reprodutivos, embora haja incidência controlada de doenças, como bacteriose, e pragas, como cigarrinhas.
Pará: a semeadura do milho verão avança conforme o período chuvoso se estabelece, embora o atraso tenha prejudicado a janela ideal de plantio devido à irregularidade das chuvas.
Estimativa da safra de milho verão 2023/24 em janeiro
A estimativa para a produção de milho em janeiro foi de 117,6 milhões de toneladas, com redução de 10,9%, o que representa 14,3 milhões de toneladas a menos em relação à previsão anterior. O milho verão representa 20,7% da produção total de milho do Brasil, e os fatores que mais prejudicaram as lavouras foram:
- excesso de chuvas no Sul;
- falta de chuvas e altas temperaturas no Centro-Oeste;
- replantios;
- problemas fitossanitários;
- preços;
- época de semeadura.
Algodão
Mato Grosso: as condições climáticas têm sido favoráveis, com chuvas bem distribuídas e em intensidades adequadas, permitindo uma semeadura sem contratempos e um desenvolvimento promissor das lavouras.
Bahia: as chuvas recentes têm sido benéficas para o crescimento das lavouras de sequeiro, impulsionando um progresso notável.
Mato Grosso do Sul: nas principais regiões produtoras, a redução no volume de chuvas tem favorecido o ritmo da semeadura, que agora está em fase de conclusão.
Maranhão: na região sul do Maranhão, o plantio da primeira safra foi finalizado, enquanto na segunda safra, a semeadura teve início após a melhoria das condições climáticas.
Goiás: a interação entre dias ensolarados e chuvas tem favorecido o desenvolvimento das culturas. O plantio de verão foi realizado dentro da janela ideal, resultando em lavouras bem estabelecidas, predominantemente na fase vegetativa.
Minas Gerais: o avanço do plantio foi notável, especialmente nas áreas irrigadas. Apesar do calor intenso enfrentado pelas áreas de sequeiro em dezembro, as lavouras estão em uma condição satisfatória.
São Paulo: a semeadura foi concluída, porém, as altas temperaturas e a irregularidade das chuvas têm afetado o desenvolvimento das plantas.
Piauí: o progresso da semeadura foi visível somente após a ocorrência de chuvas entre o final de dezembro e o início de janeiro. O plantio nas áreas de sequeiro está finalizado, enquanto nas áreas irrigadas está em andamento.
Estimativa da safra de algodão 2023/24 em janeiro
A estimativa para a produção de pluma foi firmada em 3,1 milhões de toneladas, com um crescimento de 6,2% em relação à safra 2022/23. O incremento teve como fatores principais:
- aumento da área plantada;
- boas perspectivas de comercialização;
- preço da commodity.
No primeiro levantamento da Conab de 2024, a semeadura já ultrapassava os 30% da área estimada para a cultura, de 1.766,6 mil hectares. No entanto, a previsão é de que essa extensão sofra alteração, considerando que parte da área do Mato Grosso em que deveria ser realizado o replantio da soja, produtores optaram por semear outras culturas que seriam de segunda safra, como o algodão.
Fonte: Conab – Boletim de Monitoramento Agrícola, Brasília, v. 13, n. 01, Jan., 2024, p. 13.
Efeitos climáticos do El Niño devem se estender até o outono de 2024
Em entrevista para o Mais Agro, o agrometeorologista Marco Antonio dos Santos, nosso correspondente da Rural Clima, ressaltou que o El Niño – fenômeno que tem gerado grandes impactos climáticos no Brasil – deve se estender até o outono de 2024, porém com uma intensidade bem mais fraca do que agora.
Ainda assim, é importante que os produtores fiquem atentos e se mantenham atualizados sobre as previsões climáticas e as estratégias que ajudam a mitigar os impactos dessas adversidades.
Aproveite para conferir a matéria completa e as recomendações para o verão 2024: Agrometeorologista fala sobre o início do verão e o clima em 2024
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